01/07/1960 -

Intervenção da ONU (Capacetes Azuis) no ex-Congo Belga.

A intervenção das Nações Unidas no Congo Imediatamente após a independência, rebentaram no Congo motins e revoltas que causaram o pânico entre os cerca de 100 000 belgas ainda no território. Os pára-quedistas enviados pela Bélgica foram apoiados militarmente pelos americanos para defenderem os seus nacionais. A crise em Leopoldville foi aproveitada por Moisés Tchombé para declarar a independência do Catanga, a rica província que produzia 60% do urânio mundial e 80% dos diamantes industriais e que era apoiada pelas grandes companhias europeias.

A intervenção de forças belgas e americanas e a secessão do Catanga levaram Patrice Lumumba, o primeiro-ministro do novo Governo do Congo, a apelar às Nações Unidas para o protegerem.

Perante a ameaça de caos no território e de desmembramento de uma nação africana como havia saído da partilha colonial feita na Conferência de Berlim, o Conselho de Segurança autorizou a criação de uma força de 10 000 homens para restaurar a ordem e a lei no Congo.

Esta força recebeu quatro tarefas: restaurar a lei e a ordem e mantê-la; impedir que outras nações interviessem na crise; apoiar a construção da economia da nação; restaurar a estabilidade política.

Os Capacetes Azuis estavam, no entanto, limitados no uso da força, que só podia ser utilizada em autoprotecção e não estavam ainda autorizados a tomar parte no conflito entre o Governo de Leopoldville e o Governo de Tchombé em Elizabethville, no Catanga.

Lumumba pediu às Nações Unidas para usar a força contra Tchombé e a secessão do Catanga, o que o secretário-geral, Dag Hammarskjöld, recusou, levando Lumumba a acusar a ONU de estar ao lado de Tchombé e das grandes companhias europeias e voltou-se para a URSS, a quem pediu auxílio.

A URSS forneceu apoio militar ao Governo de Lumumba, que lançou um ataque ao Catanga. O ataque falhou e o presidente Kasavubu demitiu o seu primeiro-ministro, substituindo-o pelo chefe do Exército, o coronel Mobutu.

No primeiro semestre de 1961, seis meses após a independência, existiam quatro grupos a reclamarem a liderança do Congo: o Governo de Mobutu, em Leopoldville, os apoiantes de Lumumba, concentrados em Stanleyville, o Governo de Tchombé, em Elizabethville, no Catanga, e ainda um autoproclamado Governo do Casai, dirigido pelo chefe tribal que se intitulou rei Alberto Kalonji.

Chegando-se ao ponto da guerra civil generalizada, o Conselho de Segurança das Nações Unidas deu então autorização às suas tropas para usarem a força, de forma a impedir a implosão do Congo.

Entretanto, três das partes desavindas acordaram em formar um governo liderado por Cyrille Adoula e em estabelecer um parlamento em Leopoldville, do qual apenas Tchombé e o rico Catanga ficaram de fora.

Adoula pediu então à ONU apoio militar para atacar o Catanga, e 5000 capacetes azuis ocuparam vários pontos-chave na província rebelde, mas não apanharam Tchombé, que se refugiara na Rodésia.

As Nações Unidas sofreram mais um revés quando Dag Hammarskjöld, que voava para a Rodésia a fim de se encontrar com Tchombé, para o convencer a aderir ao Governo de Adoula, morreu num até hoje mal explicado acidente de aviação. Foi substituído por U Thant que aceitou voltar a atacar o Catanga. No final de 1962, as forças das Nações Unidas reocuparam a província e Tchombé deixou o Congo por algum tempo.

Esta intervenção das Nações Unidas tem sido objecto de análises contraditórias. Os defensores referem que ela permitiu atingir os quatro grandes objectivos que estiveram na origem da sua constituição – o Congo não mergulhou na guerra civil total, a URSS foi mantida fora desta área sensível para o Ocidente, o Congo manteve a integridade territorial e, no final de 1963, tinha sido alcançada uma estabilidade política (com Mobutu). As Nações Unidas também se responsabilizaram por um programa humanitário no Congo, evitando fomes e epidemias.

Algumas nações, como a URSS, a França e a Bélgica, foram no entanto críticas da acção das Nações Unidas, acusando Dag Hammarskjöld de ter excedido o seu mandato, decidindo o que estas podiam e não podiam fazer.

Estas nações recusaram pagar a sua parte dos 400 milhões de dólares que a operação custou e quase levaram a ONU à falência.

Por detrás da situação caótica do Congo estiveram, em primeiro lugar, a forma irresponsável como a Bélgica concedeu a independência um território onde exercera uma brutal administração durante quase um século e de onde se retirou sem cuidar das consequências; depois, as superpotências e o conflito Leste-Oeste, na sua disputa por zonas de influência através de títeres locais; por fim, as grandes companhias, como a “Companhia Mineira do Alto Catanga” e a “Societé Générale”; e ainda alguns vizinhos muito interessados, como era o caso de Portugal.

Bandeira do Catanga