22/03/1961 -

Manifestação em Luanda contra o cônsul dos Estados Unidos.

A 22 de Março ocorreu um incidente grave junto ao consulado americano em Luanda. Uma multidão considerável concentrou-se defronte do edifício consular, exigindo a presença do cônsul, William Gibson, e gritando palavras de ordem antiamericanas. De acordo com a versão publicada na imprensa portuguesa, Gibson teria aparecido aos manifestantes e gritado “Vão-se embora, que isto é dos pretos”. Foi então que, segundo o Diário de Notícias, “a população reagiu violentamente perante tamanho insulto aos seus sentimentos patrióticos, pois isto não é só dos pretos nem dos brancos, mas sim dos portugueses”.

Deste modo, “apoderando-se de um automóvel pertencente ao consulado, encheram-no de capim e de outras coisas, danificando-o e atirando-o para as águas da baía”.

No dia seguinte, o Diário de Notícias publicava o desmentido de William Gibson que, em carta enviada ao governador-geral de Angola, indicou não ter proferido “uma só palavra em português ou inglês a qualquer das pessoas que se dirigiu ao consulado ou se conservou em frente deste”.

Segundo o jornal “este desmentido das autoridades norte-americanas de Luanda mostra não ter qualquer fundamento a notícia em que se atribuíam ao cônsul dos Estados Unidos naquela cidade declarações que provocaram a maior indignação na opinião pública portuguesa”.

Aos olhos da PIDE, porém, o cônsul William Gibson era considerado um indivíduo perigoso. Uma informação da polícia política recebida por Salazar no final do mês de Março referia que Gibson “não estará inocente, antes tenta procurar alimentar todas as acções dos negros contra a soberania de Portugal em Angola”, sendo igualmente “notável a sua intenção de estabelecer o pânico entre os estrangeiros brancos residentes em Angola”.

Era conhecido o apoio do Governo dos Estados Unidos a Holden Roberto e à UPA, de que ele era presidente.

Não admira que, depois de recebidos em Luanda os refugiados vindos do Norte e de ouvidas as suas histórias sobre as atrocidades cometidas pelos homens da UPA, se tenha levantado em Luanda um forte sentimento antiamericano.