Reuniões de Botelho Moniz, ministro da Defesa, com Salazar.
(28 e 29/03/1961)
Botelho Moniz teve duas longas reuniões, a 28 e 29 de Março, com Salazar, durante as quais frisou o apoio americano para uma solução de tipo federativo para as colónias.
Salazar prometeu pensar no assunto e Botelho Moniz foi descansar para o Algarve, deixando sair do país, em missão oficial, o CEMGFA, general Beleza Ferraz, e o CEMFA, general Albuquerque de Freitas.
Antes de partir para o Algarve, e depois da reunião com Salazar, Botelho Moniz ainda almoçou com o embaixador americano, tendo estado presentes Fred Hubbard e Viana de Lemos. Neste almoço, foi dado conhecimento ao embaixador das conversas com Salazar.
Segundo Elbrick comunicou a Washington, Botelho Moniz estava convencido de que Salazar estava a considerar seriamente as suas propostas.
A 5 de Abril, dado não ter havido reacção da parte de Salazar, Botelho Moniz foi falar com o presidente da República, expondo-lhe o que tinha dito a Salazar e insistindo na necessidade de o substituir.
Américo Tomás fez o mesmo que Salazar, pediu para pensar no assunto e sugeriu a Botelho Moniz uma mobilização dos quadros intermédios do Exército, sobretudo dos capitães, para que a pressão se exercesse de baixo para cima, tendo o ministro recusado esta sugestão, baseado no apoio dos generais.
Aparentemente não era necessário alargar mais a base de apoio, o Exército estava seguro, a Marinha estava de fora, sob a influência do ministro Quintanilha Dias, um salazarista, mas era pouco provável que a Armada se opusesse ao Exército, além de que o seu CEM, almirante Sousa Uva, era um antigo colaborador de Botelho Moniz.
Quanto às forças militarizadas, o ministro do Interior, coronel Arnaldo Schultz, garantia a sua neutralidade.
Em resumo, o único foco de resistência podia ser, quando muito, a Força Aérea, comandada directamente por Kaúlza, situação agravada com a ausência do respectivo chefe do Estado-Maior, Albuquerque de Freitas, nos Estados Unidos.
Entretanto prepara-se a resistência Salazar, Tomás, Kaúlza, Santos Costa, Adriano Moreira e outros indefectíveis do regime, com o tempo que lhes era oferecido, prepararam o contra golpe.
Sem receber respostas às suas acções, Botelho Moniz comunica a Elbrick (9 de Abril) que vão passar ao ataque e convencer Tomás a demitir Salazar e, em caso de recusa, anunciar-lhe a tomada do poder.
Botelho Moniz com o subsecretário de Estado americano George Ball e o embaixador em Lisboa Elbrick no aeroporto. [AHM]