05/06/1961 -

Início do 1º Curso de Fuzileiros.

Em Vale de Zebro, a Marinha deu início ao primeiro curso de Fuzileiros. A directiva para o seu início referia que este Curso se destinava “a preparar rapidamente o primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais que irá reforçar o dispositivo da Marinha em Angola”.
A decisão de reconstituir unidades de Infantaria de Marinha foi tomada pelo Ministério da Marinha por “após os inícios das ocorrências em Angola se ter constatado que, apesar da valorosa acção das forças de desembarque das unidades navais presentes na área, a Marinha necessitava de unidades especialmente treinadas para operar em terra em acções contra guerrilha”. Assim, em 1961, foram criadas a nova classe de sargentos e praças – Fuzileiros – e as respectivas unidades operacionais: Batalhões, Companhias e Pelotões de Fuzileiros e Destacamentos de Fuzileiros Especiais.

Fuzileiros: uma necessidade da Marinha
A criação destas unidades resultou de uma necessidade da Marinha, mas nunca foi enquadrada nas necessidades gerais das Forças Armadas.
Este tipo de decisões, em que cada ramo das Forças Armadas definia as suas necessidades e criava as suas unidades, como se houvesse uma guerra da Marinha, outra do Exército e outra da Força Aérea, foi uma constante ao longo de toda a guerra.
Os Destacamentos de Fuzileiros Especiais e as Companhias de Fuzileiros organizaram-se de acordo com a doutrina da Marinha e sem qualquer coordenação com o Exército, que seria responsável pelo dispositivo operacional e pelo emprego das forças.

Dificuldades de emprego e missões inadequadas
Deste conceito resultaram grandes dificuldades de emprego, sentidas quer pelos Fuzileiros, quer pelos comandos militares no terreno.
Os Destacamentos, de 75/80 homens, tinham efectivos inferiores em cerca de 1/3 relativamente às companhias de Caçadores, incluindo as de Pára-quedistas e de Comandos, e não dispunham de elementos de apoio nem de serviços de alimentação e transporte. Estas características limitavam o seu emprego como unidades de intervenção ao lado das companhias de Comandos e de Pára-quedistas. Por força do seu menor efectivo, a sua capacidade de manobra era inferior. Por ausência de apoios, os seus tempos de emprego nas zonas de operação também eram mais reduzidos. Como, por outro lado, pelo seu recrutamento e treino, eram excessivamente valiosos para serem empregues na defesa de pontos sensíveis, uma missão que devia ser desempenhada pelas companhias de Fuzileiros que, essas sim, tinham efectivos (140 homens) e orgânica semelhantes às companhias de Caçadores em quadrícula, era muito difícil aos comandantes-chefes atribuírem-lhes missões adequadas.
Antes de uma verdadeira necessidade operacional, que nunca foi estudada nem estabelecida ao nível do Ministério da Defesa, a criação dos Destacamentos de Fuzileiros Especiais e, em certa medida, das companhias de Fuzileiros, resultou da necessidade da Marinha dispor de unidades para participar na guerra nos cenários terrestres onde ela se iria travar.

Exercício de Fuzileiros com botes. [DGARQ-TT-SNI]