Divergências e mal-estar entre Venâncio Deslandes, governador-geral e comandante-chefe de Angola, e Adriano Moreira, ministro do Ultramar.
O método de escolha de Salazar Venâncio Deslandes tomara posse do cargo em Junho, e em Outubro já eram visíveis as divergências entre ele e o ministro do Ultramar, Adriano Moreira.
O método de Salazar para escolher os altos dirigentes não contemplava a compatibilidade entre os diferentes níveis da hierarquia, mas sim o da obediência de todos ao chefe supremo, ele próprio. Para Salazar, como eram inadmissíveis as divergências quanto à fidelidade aos princípios doutrinários, restavam as disputas interpessoais, que ele utilizava como modo de reforçar o seu poder arbitral.
Deslandes e Adriano Moreira não se conheciam, nem conheciam as ideias um do outro, e Salazar não achou importante que o general conhecesse o ministro a quem, em princípio, ficaria subordinado.
Cada um por si
O governador e o ministro iriam, cada um por si, tentar pôr em prática as suas ideias.
Venâncio Deslandes tomou uma série de iniciativas legislativas sem dar conhecimento ao ministro do Ultramar. Duas delas criam grande mal-estar em Lisboa: a criação de uma universidade em Luanda e o lançamento de impostos (em favor de Angola) às grandes empresas, nomeadamente à Diamang.
Quanto à universidade, Adriano Moreira, um académico, tinha as suas ideias, e, quanto aos impostos, os sócios sul-africanos da diamantífera De Beers e os bancos protestaram junto de Salazar.
A solução adiantada por Salazar foi Adriano Moreira revogar o despacho de criação da universidade, como modo de avisar o governador a conter os seus ímpetos. A medida provocou, contudo, descontentamento entre os colonos favoráveis a uma crescente autonomia de Angola, que fosse criando perspectivas de
uma desejada independência branca. Venâncio Deslandes diz em público que comandava o maior Exército português de toda a história, uma ameaça que Salazar não deixou passar em claro, enquanto impunha uma mudança de política a Adriano Moreira. O resultado do conflito entre o governador e o ministro foi a posterior demissão de ambos, como aconteceu a vários dos altos funcionários que entraram em disputas públicas.