21/03/1964 -

Comunicado da PIDE, acusando Humberto Delgado de auxílio aos “grupos terroristas”.

Estas acusações diziam respeito às conversações que Humberto Delgado manteve, enquanto presidente da FPLN, com dirigentes dos movimentos nacionalistas com quem se reuniu por várias vezes em Argel. Numa declaração de 13 de Outubro de 1961, Amílcar Cabral tinha sido o primeiro dirigente nacionalista a solicitar aos líderes da Oposição portuguesa uma prova de clarividência e a “declararem publicamente e sem equívocos que reconhecem o direito dos nossos povos à autodeterminação e à independência”. Humberto Delgado, o MNI (Movimento Nacional Independente) e a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN) clarificaram em 1962 as suas posições acerca das colónias ao declararem que eram favoráveis a abertura imediata de negociações entre o Governo português e os movimentos de libertação africanos no sentido de autogoverno.

Em 1964, Humberto Delgado e a FPLN entraram novamente em contacto com os movimentos de libertação, reiterando as suas reivindicações. Mas Humberto Delgado e a FPLN eram apenas uma parte da Oposição portuguesa e as relações desta com os movimentos nacionalistas fazem parte duma história complexa que acompanha o momento histórico que se vivia, de uma história pela qual passaram todas as grandes correntes de pensamento, as disputas ideológicas e os alinhamentos estratégicos que caracterizaram as décadas de 50, 60 e 70, os confrontos por interpostos actores da Guerra-Fria, o conflito sino-soviético, as tentativas frustradas de construção de um mundo não alinhado pelas superpotências, as crises que se revelaram insuperáveis do Terceiro Mundo. Foi neste mundo em ebulição que Humberto Delgado acabou por cair, às mãos dos seus inimigos principais – a PIDE.