Deliberação do Conselho de Ministros sobre a nomeação do general José Costa Almeida para os cargos de governador-geral e comandante-chefe de Moçambique, em substituição do anterior governador, almirante Sarmento Rodrigues.
Em 14 de Maio de 1964, o Conselho de Ministros decidiu substituir o almirante Sarmento Rodrigues nos cargos de governador-geral e comandante-chefe de Moçambique pelo general José Costa e Almeida. Sarmento Rodrigues terminou a sua carreira de homem público como quase todos os homenspúblicos com pensamento próprio que pertenceram à alta administração pública no regime de Salazar – triste, desiludido e despedido, colocado num conselho de administração de uma grande empresa, no seu caso, a Torralta.
Sarmento Rodrigues
O almirante Sarmento Rodrigues nasceu em 1899 e foi como político ligado a África e às colónias que fez quase toda a sua carreira. Foi secretário do almirante Quintão Meireles, quando este foi ministro dos Negócios Estrangeiros, foi governador da Guiné entre 1945 e 1949, deputado, ministro das Colónias e do Ultramar e finalmente governador-geral e comandante-chefe de Moçambique, por convite de Adriano Moreira, que o considerava a pessoa que, em Portugal, mais sabia de África, e com quem partilhava as ideias de autonomia para as colónias. Salazar considerou-o sempre como um liberal dentro do regime e sabia que ele era maçon. A sua nomeação para Moçambique deu-se numa altura em que Salazar ainda procurava perceber o que se estava a passar em África e não fechou as portas a nenhuma solução. Salazar esperava para ver e utilizava as pessoas para provocar reacções. Depois decidia consoante a correlação de forças. Quando percebeu que as forças instaladas em Angola e em Moçambique não admitiam mudanças que tocassem nos seus interesses, descartou o grupo que as tentava promover, e refugiou-se numa política defensiva de recusa da mudança.
Sarmento Rodrigues saiu de Moçambique apenas com dois anos de governo pelas mesmas razões que levaram Adriano Moreira a sair do Ministério do Ultramar e Deslandes a sair de Angola – porque os grupos estabelecidos levaram Salazar a demiti-los. Sarmento Rodrigues tinha ficado espartilhado no conflito entre o grupo de colonos dominante na Beira, que defendia a aceleração da autonomia de Moçambique, e os de Lourenço Marques, conservadores e desligados do que se passava no mundo e no Norte do território, onde se sentia já o vento da contestação. Chegou a propor o fim do Ministério do Ultramar e a sua substituição por um Ministério da Coordenação Interterritorial. O que fez soar as campainhas de alarme dos ortodoxos do regime, que preparavam a construção do novo e exuberante edifício que serviria de sede ao Ministério do Ultramar, na colina por detrás dos Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém, a significar a falsa continuidade de uma política que vinha desde os descobrimentos.
Em 1974, Portugal era o único país a ter um Ministério do Ultramar. Com a saída de Sarmento Rodrigues de governador-geral de Moçambique e com a sua substituição por Costa Almeida, um obscuro brigadeiro piloto-aviador cujo único mérito reconhecido para ocupar o lugar era ser natural de Moçambique, fechou-se uma porta e terminou a época de governadores capazes de imporem uma política de autonomia, de governadores com peso próprio, que seriam substituídos por governadores funcionários subordinados ao ministro do Ultramar. Angola e Moçambique, as jóias da coroa, passarão a ser governadas com mão pesada a partir de Lisboa e só a Guiné, um pântano que devia manter-se em nome dos princípios, podia ser entregue a alguém que fizesse daquele território o que melhor conseguisse. Aí, Salazar admitiu mesmo algumas heresias e por isso enviou Spínola.
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