24/09/1964 -
Relatório militar do período de 22 a 28 Setembro descreve com pormenor as acções do dia 25 de Setembro, dia oficial do início da guerra em Moçambique.
PERINTREP 14/64 referente ao período de 22 a 28 de Setembro de 1964:
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Houve acções subversivas nos Distritos de Cabo Delgado e Niassa.
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Na noite de 24/25 Setembro foram destruídas pontes nas estradas de Palma, Mocímboa da Praia e Nangade e feitas tentativas noutras. Apareceram também obstruções em estradas da mesma região e foram cortadas as linhas telefónicas de Mocímboa da Praia
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Segundo informação do Comando da Defesa Marítima dos Portos do Lago Niassa, houve tiroteio sem consequências nas localidades de Metangula, Messumba e Cobué, na noite de 25/26. A lancha Castor foi atingida sem gravidade.
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Ainda segundo a mesma fonte seria o mesmo grupo que disparou sobre Metangula e Messumba constituído por seis elementos.
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Das acções de patrulhamento feitas pelo Exército na região dos Macondes foram feitos vários prisioneiros, entre os quais Lucas Fernandes, que terá feito importantes declarações.
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Estranha-se o silêncio completo mantido pela rádio de Dar es Salam sobre estes acontecimentos, visto estar sempre pronta a comunicar e explorar o mais pequeno incidente.
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Este silêncio, segundo informações recebidas, parece levar a concluir que se trata de uma manobra unilateral de elementos separatistas da MANU.
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Da análise de notícias obtidas através de interrogatórios dos indivíduos capturados pode concluir-se o seguinte:
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Na RM (Região Militar) infiltraram-se desde há tempos grupos de indivíduos pertencentes à FRELIMO e um grupo de indivíduos dissidentes da MANU.
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Neste momento existem três grupos da FRELIMO instalados na RM, constituídos cada um por 12 homens armados de pistolametralhadora, pistola e espingarda (Lee-Enfield). Do exposto pode concluir-se:
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A morte do padre da Missão de Nangololo constituiu uma precipitação por parte dos elementos do grupo dissidente da MANU, que querendo angariar adeptos procurou criar o clima psicológico propício com a morte de um branco. Teve contudo insucesso em virtude de:
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Os elementos da população ao verificarem que tinha sido morto um padre e fugiram aterrorizados.
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Ter originado a cooperação dos padres da missão com as autoridades portuguesas.
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Ter originado a acção repressiva das autoridades militares que provocaram a manifestação dos grupos da FRELIMO, cuja presença era desconhecida. Deve ainda frisar-se que os indivíduos da etnia maconde estão quase na sua totalidade subvertidos, apoiando qualquer acção antiportuguesa, começando a notar-se forte infiltração na etnia macua”.
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PERINTREP 15/64 referente ao período de 29 de Setembro a 5 de Outubro de 1964 “Segundo informações do Governo do Distrito de Cabo Delgado foi detectada uma rede da MANU no Chai que parece responsável pelo ataque à casa do Chefe do Posto”.
É interessante verificar a pouca importância que as autoridades militares portuguesas deram ao ataque ao posto do Chai, atribuindo a sua autoria adissidentes da MANU.