22/11/1964 -

Suspensão do jornal Diário, da Beira, Moçambique, por publicar o que foi considerado como “uma versão falsa de confrontos militares no Norte de Moçambique”.

O motivo invocado pelas autoridades foi o jornal ter relatado uns incidentes ocorridos no Norte, dos quais resultara a morte de um militar. O Diário de Moçambique pertencia à diocese da Beira e tinha sido fundado pelo seu bispo, D. Sebastião Soares de Resende, um religioso muito activo no plano social e cujas prédicas e pastorais revelavam um forte sentido crítico sobre a situação colonial, numa linha que teria seguidores como D. Manuel Vieira Pinto, bispo de Nampula, e na linha oposta à do então arcebispo de Lourenço Marques, D. Teodósio Gouveia, defensor do regime e da causa colonial.

D. Soares de Resende foi o fundador do semanário A Voz Africana, da revista Economia, do Diário de Moçambique e da Rádio Pax, estação emissora também anexa à diocese. Ele utilizava estes órgãos para a evangelização e denúncia das situações de violência e opressão, entrando por isso em conflito com as autoridades coloniais que suspenderam o jornal por 30 dias em 1964 e por 10 em Julho de 1965, quando o bispo publicou um artigo sobre os 25 anos do Acordo Missionário sem o submeter à censura.

A intenção destas penas era a de sufocar financeiramente estes órgãos e assim calar uma voz incómoda.

A resposta que o Diário de Moçambique encontrou para contrariar a apertada vigilância da PIDE e da Censura foi deixar de publicar discursos de ministros e governadores-gerais, passando a ser mais importante o que calava do que aquilo que publicava. Em contraponto ao Diário de Moçambique e para defender as posições do regime, existia o Notícias da Beira, órgão da União Nacional, dominado por Jorge Jardim.