14/12/1964 -
Apoio dos EUA à FRELIMO.
Uma nota da PIDE dava conta de terem sido recebidas três comunicações de um informador operando no interior da FRELIMO que revelava estarem a verificar-se importantes acções políticas dos EUA relativamente ao partido e ao seu presidente, Eduardo Mondlane. Assim, segundo o agente, em meados de Novembro o embaixador americano em Dar es Salam teria oferecido 600 000 libras a altas entidades da Tanzânia para evitar que Mondlane fosse considerado indesejável e expulso do país, como consequência de um artigo publicado na revista Drum, altamente desfavorável ao líder da FRELIMO. Sabe-se também que, por interferência das autoridades tanzanianas, Cuba cancelara uma ajuda financeira solicitada por Uria Simango, um opositor de Mondlane, e que a OUA interveio para impedir a criação de um novo partido concorrente da FRELIMO e apoiado por países do bloco comunista.
Os comentários da PIDE
Os comentários da PIDE sobre estas informações consideram que “a atitude americana pode ser encarada como uma manobra destinada a afastar da FRELIMO certas influências comunistas, principalmente a chinesa e a cubana
(…)
A protecção dos americanos a Mondlane (cuja esposa, tudo indica, é agente da CIA) é sobejamente conhecida; falta saber se, desse modo, os EUA conseguirão efectivamente retardar o anunciado incremento da acção da FRELIMO em Moçambique, o que poderia colocar o partido numa posição difícil: efectivamente, outras pressões existem contrariando a americana”.
O que a PIDE sabia
A PIDE tinha acesso ao interior da cúpula dirigente da FRELIMO e sabia com toda a clareza que Mondlane não era comunista e não defendia o alinhamento pelo bloco comunista. A PIDE e o Governo português sabiam que Mondlane era pró-americano e protegido dos americanos, que contavam com ele para contrariar a influência da União Soviética e da China.