30/06/1965 -

Alexandre Taty, vice-presidente da UPA e ministro da Defesa do GRAE, entrega-se às autoridades portuguesas com algumas centenas de guerrilheiros da UPA que estarão na origem das chamadas Tropas Especiais (TE).

A entrega ocorreu depois de uma tentativa para depor Holden Roberto da chefia da FNLA, através de uma junta militar cujo objectivo seria conseguir a unificação de todos os movimentos angolanos e a reorganização do aparelho militar do ELNA.

Alexandre Taty era um antigo funcionário dos Correios de Angola, nascido em Cabinda, que se refugiou no Congo, na sequência de um desfalque. Conseguiu ocupar lugares de destaque na estrutura da UPA, chegando a ser vice-presidente de Holden Roberto e seu ministro da Defesa. Sendo companheiro de Jonas Savimbi no Governo de Angola no Exílio (GRAE), era, ao mesmo tempo, informador e colaborador da PIDE através da embaixada de Portugal em Leopoldville.

Em 1965, dizendo-se desiludido com o estado em que se encontravam os países africanos e com os problemas tribais no seio da UPA/FNLA, apresentou-se às autoridades portuguesas com algumas centenas de guerrilheiros da UPA, com quem formou uma Junta Militar de Angola no Exílio, que estará na base das Tropas Especiais (TE). O Governo português atribuiu-lhe a patente de major.

A questão de Cabinda: petróleo

Como no Catanga, no Biafra e em muitos outros territórios ricos em petróleo ou em matérias-primas, também em Cabinda surgiram movimentos separatistas invocando razões históricas e étnicas. No caso de Cabinda, todas as razões confluem numa única – o petróleo.

 

Sonda de petróleo na costa de Cabinda. [DGARQ-TT-SNI]

 

As acções da UPA e do MPLA intensificaram-se em 1965, o ano da instalação da Gulf Oil. O MPLA estava instalado no Congo Brazzaville, a norte, e a UPA/FNLA a sul, no Congo Leopoldville. Era, portanto, fácil penetrarem no território e executarem acções contra as forças portuguesas.

 

A extracção de petróleo em Cabinda começou em 1968 pela empresa americana Gulf Oil mais tarde Chevron) que possuía 49% das áreas petrolíferas de Cabinda. [Oil &Gas Journal]

O ano de 1965 foi o ano de maior actividade militar em Cabinda durante toda a guerra, sendo que tanto os dois movimentos principais, como a sempre útil FLEC, se voltaram de novo para Cabinda, cuja questão se arrastaria para lá da independência de Angola.

Depois de 1965, a actividade militar, quer da UPA/FNLA, quer do MPLA, diminuiu significativamente, mas por razões diferentes. A UPA sofreu uma crise com a deserção de Alexandre Taty para o lado português e a saída de Savimbi para formar a UNITA. O MPLA, por sua vez, decidiu concentrar os seus esforços no Leste de Angola.

Julga-se que, muito provavelmente, os EUA terão exercido pressão sobre os governos dos dois Congos para evitarem ataques à Cabinda Gulf e que esta tenha contribuído financeiramente para não ser atacada. Uma situação que satisfazia todas as partes.

As TE – Tropas Especiais

A apresentação de Alexandre Taty às autoridades portuguesas em Cabinda foi seguida pela de várias centenas de apoiantes, alguns deles antigos guerrilheiros da FNLA e quase todos originários de Cabinda.

O Comando Militar português e as autoridades civis decidiram criar uma força militar irregular com estes homens, nomeando oficiais do Exército para os enquadrar. Foram organizados dois núcleos para realizarem operações de guerrilha no sector de Cabinda, um com sede na capital, onde ficou Alexandre Taty, e outro em S. Salvador do Congo.

Foram formados 15 grupos, com um total de efectivos de cerca de 600 homens que realizaram operações no Congo-Leo e no Congo Brazzaville, contra a UPA e o MPLA. A sua acção mais saliente foi o rapto de António Mingas, comissário político do MPLA. Estes homens pretendiam antes de mais estabilidade, que lhes permitisse instalarem-se na sua terra com as suas famílias. As operações que tinham de realizar eram o preço que pagavam para terem um salário e um estatuto.