Assalto da polícia à sede da Associação Académica de Coimbra, seguindo-se novo luto académico e a greve aos exames. A Associação Académica de Coimbra permanecerá encerrada até às vésperas da eclosão da crise coimbrã, em 1969.
A importância das lutas estudantis no desenrolar da guerra
As lutas estudantis iniciadas em 1962 e que se prolongarão durante todo o período da guerra, com os picos de crise em 1969 e 1973, tiveram um impacto muito
significativo na guerra.
A luta estudantil teve lugar principalmente nas universidades, que eram o lugar de preparação das elites para a governação do aparelho de Estado e da sociedade
civil. Mas, por força da guerra, foram também o lugar de formação dos quadros mais baixos (os subalternos em termos militares) necessários para os postos de
comando das Forças Armadas.
Os “milicianos”
Os “milicianos” – alferes milicianos comandantes dos pelotões das companhias mobilizadas e colocadas nos postos da quadrícula militar africana, e aspirantes e alferes milicianos instrutores nas recrutas ministradas aos soldados do serviço militar obrigatório nas unidades metropolitanas – vinham na sua maioria das universidades e da sua agitação política. A crise permanente da universidade portuguesa foi a escola prática da formação dos oficiais milicianos, e esta escola prática antecipou a escola prática militar dos cursos de oficiais milicianos de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e todos os serviços, ministrados em Mafra, em Santarém, em Vendas Novas, em Tancos.
Embora seja exagerado afirmar que os oficiais milicianos eram agentes políticos formados na subversão universitária porque, de facto, a maioria desses jovens era apenas gente comum num país que surgia, dia a dia e aos seus olhos, cada vez mais estranho no contexto europeu, a questão é que a universidade os politizou, no sentido em que os obrigou a confrontarem-se com atitudes e decisões políticas, resultantes do seu envolvimento em discussões e manifestações.
Essa politização elementar foi transposta para o interior das Forças Armadas, especialmente para o Exército, já que ela era comum na Marinha e nunca teve
lugar na Força Aérea.
A agitação universitária entrava no Exército por várias portas, algumas como efeito colateral e indesejado pelo regime. Entrava quando os militares dos quadros permanentes recebiam as informações vindas da PIDE/DGS de que um dado miliciano era PS (politicamente suspeito), ou quando descobriam que um dado soldado era um estudante universitário punido, desgraduado e incorporado disciplinarmente por actividades políticas. Entrava ainda quando eram confrontados com a deserção de jovens oficiais milicianos que prestavam serviço nas suas unidades.
A agitação universitária teve ainda repercussões militares através das mulheres que, cada vez em maior número, chegavam ao ensino superior e eram namoradas e familiares dos militares dos quadros permanentes, que os envolviam nas suas críticas e os questionavam.
A permanente crise universitária de 1962 a 1974 foi apenas o reflexo do que se passava no mundo, uma alteração de comportamentos e de valores e, contra isso – contra as modas hippies, contra as músicas pop, contra o sexo mais liberal – o regime e a PIDE nada podiam fazer.
A crise universitária era inerente ao avanço do tempo e o regime tornara-se anacrónico.
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