10/05/1962 -

Assalto da polícia à sede da Associação Académica de Coimbra, seguindo-se novo luto académico e a greve aos exames. A Associação Académica de Coimbra
permanecerá encerrada até às vésperas da eclosão da crise coimbrã, em 1969.

A importância das lutas estudantis no desenrolar da guerra

As lutas estudantis iniciadas em 1962 e que se prolongarão durante todo o período da guerra, com os picos de crise em 1969 e 1973, tiveram um impacto muito
significativo na guerra.

A luta estudantil teve lugar principalmente nas universidades, que eram o lugar de preparação das elites para a governação do aparelho de Estado e da sociedade
civil. Mas, por força da guerra, foram também o lugar de formação dos quadros mais baixos (os subalternos em termos militares) necessários para os postos de
comando das Forças Armadas.

Os “milicianos”

Os “milicianos” – alferes milicianos comandantes dos pelotões das companhias mobilizadas e colocadas nos postos da quadrícula militar africana, e aspirantes e alferes milicianos instrutores nas recrutas ministradas aos soldados do serviço militar obrigatório nas unidades metropolitanas – vinham na sua maioria das universidades e da sua agitação política. A crise permanente da universidade portuguesa foi a escola prática da formação dos oficiais milicianos, e esta escola prática antecipou a escola prática militar dos cursos de oficiais milicianos de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e todos os serviços, ministrados em Mafra, em Santarém, em Vendas Novas, em Tancos.

Oficial médico miliciano a prestar assistência às populações. [AHM]

Embora seja exagerado afirmar que os oficiais milicianos eram agentes políticos formados na subversão universitária porque, de facto, a maioria desses jovens era apenas gente comum num país que surgia, dia a dia e aos seus olhos, cada vez mais estranho no contexto europeu, a questão é que a universidade os politizou, no sentido em que os obrigou a confrontarem-se com atitudes e decisões políticas, resultantes do seu envolvimento em discussões e manifestações.

Essa politização elementar foi transposta para o interior das Forças Armadas, especialmente para o Exército, já que ela era comum na Marinha e nunca teve
lugar na Força Aérea.

A agitação universitária entrava no Exército por várias portas, algumas como efeito colateral e indesejado pelo regime. Entrava quando os militares dos quadros permanentes recebiam as informações vindas da PIDE/DGS de que um dado miliciano era PS (politicamente suspeito), ou quando descobriam que um dado soldado era um estudante universitário punido, desgraduado e incorporado disciplinarmente por actividades políticas. Entrava ainda quando eram confrontados com a deserção de jovens oficiais milicianos que prestavam serviço nas suas unidades.

A agitação universitária teve ainda repercussões militares através das mulheres que, cada vez em maior número, chegavam ao ensino superior e eram namoradas e familiares dos militares dos quadros permanentes, que os envolviam nas suas críticas e os questionavam.

A permanente crise universitária de 1962 a 1974 foi apenas o reflexo do que se passava no mundo, uma alteração de comportamentos e de valores e, contra isso – contra as modas hippies, contra as músicas pop, contra o sexo mais liberal – o regime e a PIDE nada podiam fazer.

A crise universitária era inerente ao avanço do tempo e o regime tornara-se anacrónico.

Aspecto da acção da Marinha. [AHM]