02/08/1965 -

Carta do chanceler alemão Ludwig Erhard a Salazar sobre a utilização dos aviões alemães fornecidos a Portugal.

Em Fevereiro de 1965, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha Ocidental tinha informado o Governo português de que só venderia 65 aviões militares F-86 de origem canadiana a Portugal, na condição de eles serem exclusivamente utilizados na área NATO.

Esta foi uma fórmula para evitar a venda e salvar a face de todos os intervenientes, Canadá, Alemanha e Portugal, pois todos sabiam que os aviões de destinavam a operar em África.

A recusa da Alemanha deu-se depois da intervenção dos Estados Unidos, mas, impedida de cumprir o contrato escrito celebrado com Portugal para fornecimento de aviões F-86, pelo embargo dos EUA, a Alemanha adquiriu em Itália uma partida de aviões de combate Fiat G91 e forneceu-os a preço inferior ao ajustado para os F-86 em segunda mão. Forneceu ainda, a troco do uso da base de Beja e de facilidade de treino em Santa Margarida, três milhões de dólares em assistência militar, com a reserva, apenas formal, de que o material não seria utilizado em
África. Os Fiat sempre foram utilizados em África, assim como as viaturas Unimog da Mercedes. A carta de Ludwig Erhard explicitava que as armas e aparelhos que a RFA vendesse ou cedesse a Portugal no âmbito do acordo de 16 de Janeiro de 1960 seriam utilizados unicamente em Portugal para fins de defesa no quadro do Tratado do Atlântico Norte.

O chanceler esperava que estes termos em que agora assentava a cooperação luso-alemã testemunhassem a “importância que o Governo alemão dedicava à colaboração com Portugal”. No entanto, Erhard realçava as cada vez maiores dificuldades em tomar atitudes que pudessem ser interpretadas como favoráveis a Portugal, porque poderiam “ter consequências nefastas” para a política alemã, nomeadamente para o desejo de reunificação do povo alemão. O que o chanceler alemão queria dizer era que o Governo federal teria de ser “mais cauteloso na forma de apoiar o Governo de Lisboa”.

De acordo com Franco Nogueira, a República Federal optou por solucionar a questão da maneira “mais fidalga e benéfica”, pois cedeu ao Governo português 40 aviões Fiat G-91, “inteiramente novos, por preço inferior ao ajustado” para os F-86 Sabre. Estes Fiat G-91 chegaram a Portugal no início de 1966 e em Junho desse ano foram colocados na Base Aérea n.º 12, em Bissalanca, na Guiné.