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Operação “Sparrow”, de fornecimento pelos Estados Unidos de bombardeiros B-26 a Portugal.

A alteração da política dos Estados Unidos feita pela administração Johnson incluiu, como prova de boa vontade, a autorização de venda encoberta de 20 aviões bombardeiros B-26, feita através da CIA. Os B-26 eram velhos aviões que haviam sido construídos em número excessivo para as necessidades e que passaram a ser utilizados pela CIA em várias operações anticomunistas encobertas. Foram utilizados no falhado ataque da Baía do Porcos contra Cuba, nas Filipinas, na Indonésia para apoiarem o golpe anticomunista de Suharto, na Nicarágua e até na ajuda à França na Indochina. A operação de cedência destes 20 B-26 recebeu o nome de código de Operação Sparrow (Operação Pardal) e, apesar de nela estarem envolvidas nada menos de treze agências americanas, teve de ser abortada quando o piloto que conduzia um dos aviões, presumivelmente embriagado, sobrevoou o espaço aéreo interdito sobre a Casa Branca, foi interceptado e posteriormente preso. Portugal recebeu apenas sete dos 20 aviões previstos.

As confusas explicações oficiais do Governo português

Em 11 de Outubro, quando da ida aos Estados Unidos para a XX Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, Franco Nogueira aproveitou uma entrevista com o secretário de Estado Dean Rusk para tratar do assunto dos B-26.

A reunião teve lugar em Nova Iorque e, de acordo com as minutas feitas, o ministro português repetiu a explicação oficial de que os sete B-26 que tinham finalmente aterrado em Lisboa haviam sido comprados de boa fé pelo seu Governo a uma empresa europeia. A empresa tinha sede na Suíça, possuía o seu próprio aeroporto e o seu representante apresentara as credenciais adequadas. O contrato de compra fora negociado sem o conhecimento nem o envolvimento de qualquer outra firma e Franco Nogueira afirmou ter ele próprio lido o documento e dado uma cópia ao embaixador Anderson. Adiantou ainda que, como resultado das investigações do Governo português, havia sido descoberto, posteriormente, que a tal firma suíça parecia ter cooperado com uma outra canadiana que por sua vez, tinha feito negócio com uma empresa
americana (Hamilton Aircraft, uma empresa fantasma da CIA).

Portugal tinha a consciência limpa nesta matéria, garantiu Franco Nogueira. O contrato tinha sido negociado sem que o Governo português tivesse sido avisado de que estava a violar leis dos Estados Unidos. Portugal tinha pago os aviões em dinheiro vivo (cash) sem saber que os aviões voariam a partir dos Estados Unidos e as investigações não tinham revelado que os aviões eram propriedade dos EUA ou se eram excedentes.

Portugal acusado de receptador de material roubado

O secretário de Estado Dean Rusk retorquiu que não era advogado, mas poderiam existir violações ao Munitions Export Control Act e mais detalhes legais envolvidos. Dado que uma das firmas envolvidas violara seriamente as leis dos Estados Unidos e Portugal estava na má situação de país que tinha recebido material roubado, sendo indiferente que o soubesse, ou não. Acrescia que os aviões tinham sido vendidos sem licença de exportação.

O ministro Franco Nogueira procurou justificar-se dizendo que Portugal pagara os aviões a um homem que não era um ladrão e a Hamilton Aircraft tinha deixado claro ao Governo português existirem motivos políticos para explicar a atitude dos Estados Unidos e que a falta de licença de exportação não era um problema português, pelo que Portugal não se sentia culpado política, moral e legalmente.

Dean Rusk apenas respondeu que o assunto seria tratado com mais profundidade depois do seu regresso a Washington, o que não descansou Franco Nogueira, que tinha sido informado pela embaixada portuguesa que o assunto poderia ser levado a um tribunal dos Estados Unidos. Esta possibilidade do Estado português ter de se sentar no banco dos réus de um tribunal americano incomodou o ministro, que atirou as responsabilidades por qualquer ilegalidade para cima das empresas canadianas e americanas envolvidas na venda e deu instruções ao embaixador português para fazer uma declaração em que afirmava terem os aviões sido adquiridos desarmados e sem a violação de qualquer lei dos Estados Unidos. Apesar de Dean Rusk avisar Franco Nogueira que o tráfico ilegal de armas era um assunto muito sério nos Estados Unidos, concedeu que normalmente quando estavam em causa governos estrangeiros estes eram normalmente chamados a resolver os assuntos politicamente. No fundo, os americanos estavam apenas a demonstrar ao Governo de Salazar as suas limitações e a sua dependência. Um jogo do gato e do rato que terminou com o pagamento dos 20 B-26 ao comerciante suíço e com o fornecimento dos sete aviões que já se encontravam em Portugal.