Apresentação, por Amílcar Cabral, perante a Comissão da ONU para os territórios administrados por Portugal, de um relatório intitulado “O nosso Povo, o Governo português e a ONU”.
Antes do abandono da via pacífica para a conquista da independência, a estratégia dos movimentos de libertação foi orientada tanto para a obtenção de apoios políticos externos, sobretudo junto da ONU, como na tentativa de levar o Governo português, através de várias iniciativas, a negociar uma saída pacífica para o problema colonial. Inscrevem-se no âmbito destas duas estratégias, no plano externo, a comparência perante a Assembleia Geral das Nações Unidas ou perante as comissões especializadas, na qualidade de peticionários, e o envio de vários relatórios e notas informativas. No plano interno, o envio de memorandos e notas ao Governo português.
Na ONU, os movimentos de libertação tentaram exercer pressões no sentido de levarem Portugal a cumprir e a fazer respeitar as leis internacionais. Mas rapidamente chegaram à conclusão de que a ONU estava de certo modo manietada e, por isso mesmo, incapacitada de impor a Portugal o cumprimento das suas resoluções. Também acabaram por concluir que as suas iniciativas junto do Governo português para uma solução pacífica e política para o problema colonial não tinham qualquer efeito, face à recusa reiterada do regime de Salazar em negociar com os movimentos nacionalistas. Perante a insistência e a ameaça destes de pegarem em armas para defenderem os seus objectivos, a única reacção do regime foi a de reforçar o aparelho militar nos territórios coloniais.
Por seu lado, e face ao fracasso da via directa de conversações, ou através da ONU e de outros organismos internacionais, os movimentos de libertação não tiveram outra saída que não fosse a de concentrar todos os seus esforços na preparação para a luta armada. A reacção do regime português foi a de reforçar o aparelho militar nos territórios colonizados.