01/03/1966 -
Efectivação do bloqueio naval pela Inglaterra ao porto da Beira, com a presença, em média, de duas fragatas ou destroyers, um navio auxiliar e aviões Schackleton da RAF, que usavam a base malgache de Majunga.
O bloqueio do porto da Beira, Beira Patrol para os ingleses, foi efectivamente estabelecido a 1 de Março. A Royal Navy estacionou a fragata da classe Rothesay HMS Lowestoft ao largo da Beira, preparada para as operações de intercepção a partir de 4 de Março, sendo apoiada por aviões do HMS Ark Royal, um porta-aviões desviado do seu trânsito para o Extremo-Oriente.
As primeiras tentativas de aproximação de petroleiros ao porto da Beira foram confirmadas com a detecção do navio de bandeira grega Joanna V, que tinha feito uma viagem suspeita do golfo arábico para Roterdão, contornando a África. O seu proprietário tinha sido contratado por um agente sul-africano para realizar vinte e sete viagens para um cliente não especificado, que se presumia ser a Rodésia. Um segundo petroleiro, Manuela, foi também detectado a navegar para Moçambique, vindo de Bandar Mashur, no Irão.
Foram os incidentes que ficaram conhecidos como do Joanna V e Manuela e que conduziram a um dos mais invulgares e longos bloqueios da história moderna.
Entre 1966 e 1975, a Marinha britânica, a sua aviação naval e a Força Aérea inglesa monitorizaram durante quase dez anos navios no canal de Moçambique, numa tentativa de evitarem que o petróleo chegasse à Rodésia via porto da Beira. Embora os militares executassem as suas missões com dedicação e profissionalismo, o bloqueio falhou rotundamente. Por razões políticas, a Inglaterra não estendeu o bloqueio aos outros portos de Moçambique (Nacala e Lourenço Marques), nem aos da África do Sul, mas também não abandonou a missão porque essa retirada era impopular entre a Marinha. A missão apenas terminou com a independência de Moçambique, podendo então a Grã-Bretanha endossar a responsabilidade para as Nações Unidas.
O bloqueio da Beira: uma história mal contada
Os serviços de informação ingleses haviam advertido o Governo que as sanções teriam pouco impacto na economia da Rodésia. De facto, os serviços de informações ingleses conheciam bem Tinny Rowlands, o milionário inglês dono da Lhonro, que era por sua vez dona do pipeline Beira-Rodésia e da refinaria rodesiana. Sabiam como ele ia contornar as sanções apoiado pela África do Sul e por Moçambique. Apesar disso, Harold Wilson comunicou aos ministros dos Negócios Estrangeiros da Commonwealth que o efeito conjugado de sanções económicas e financeiras faria terminar a rebelião em semanas, quando muito em meses. O falso optimismo de Wilson foi apresentado, tendo por base a convicção de que a África do Sul e Moçambique honrariam as sanções britânicas.
Foi com este optimismo que a Royal Navy recebeu ordem para executar o bloqueio.
O porta-aviões Ark Royal, com aviões Sea Vixen, Scimitar e Buccaneers, além de helicópteros, largou da base de Mombaça, acompanhado pelas modernas fragatas da classe Rothesy HMS Rhyel e Lowestoft, às quais se juntará a Plymouth, com destino à Beira.
Começava assim o bloqueio da Beira que duraria 10 anos, período em que navios ingleses se foram sucedendo no horizonte do mar da Beira. Como diria um comandante inglês numa mensagem: Beira is to be enjoyed, not endured (a Beira é para ser gozada e não para ser sofrida).
Infelizmente, as tripulações inglesas nunca gozaram das delícias da Beira.
Muitos outros navios ingleses passaram temporadas ao largo da Beira, vendo os navios entrar e sair. Entre eles, as fragatas HMS Devonshire, HMS Ashanti, HMS Mohwak, HMS Nubian, HMS Euryalus e HMS Cleopatra. Da classe Rothesy: HMS Rhyl, Lowestoft, a Berwick, que interceptou o navio Manuela, e a Plymouth.