24/03/1966 -

Entrevista de Salazar ao jornal New York Times.

Incentivado por Franco Nogueira, que entendia ser conveniente melhorar as relações com os Estados Unidos, agora que a administração Johnson parecia mais tolerante para com a política colonial portuguesa do que fora a de Kennedy, Salazar fez uma investida junto dos média
americanos. Em Março deu uma entrevista ao New York Times que foi publicada a 24 e onde se concentrou em demonstrar as realizações económicas do seu regime: “Sem embargo de tudo isto, e apesar das insuficiências, atrasos, erros e limitações de que temos consciência, seria preciso total desconhecimento das realidades portuguesas para se negar a expansão, o progresso, a melhoria geral do nível da sociedade portuguesa, de toda a sociedade portuguesa, na Metrópole e no Ultramar, nos últimos trinta ou quarenta anos…”.

Salazar enumerou as suas realizações, referindo o equilíbrio das receitas públicas, a luta contra o analfabetismo (mentindo ao declarar que o analfabetismo era quase de 70% quando foi para o Governo, e que estava então quase anulado), o crescimento do produto nacional bruto que, a preços constantes, se tinha elevado 65% nos últimos dez nos, a expansão das editoras de livros e revistas e o crescimento da circulação de jornais. Disse também que a população metropolitana tinha aumentado de seis para cerca de 10 milhões, que no Ultramar se tinham erradicado as grandes doenças e que se tinha intensificado e ampliado a participação dos seus habitantes, “todos cidadãos de pleno direito”, na vida política e administrativa da Nação.

Terminava, concluindo: “Temos trabalhado muito, e numa época em que tanto se fala e tudo parece depender de subsídios e ajudas técnicas, podemos dizer que temos trabalhado sós. Não devemos o nosso progresso a subsídios gratuitos ou a favor especiais de qualquer país”.

Em Abril, Salazar continuou a sua acção de propaganda junto dos americanos e concedeu uma entrevista ao Chicago Tribune, onde mandava um recado directo ao presidente Johnson: “As dificuldades com o Governo (americano) vêm apenas deste, ante o facto de a Nação portuguesa ser constituída por parcelas dispersas em vários continentes, julgar ser-lhe lícito aplicar-nos o estatuto de aliados numa parte do território e o de inimigos noutra”.