26/05/1966 -

Início da Operação Quissonde no Norte de Angola, na zona de Nambuangongo, com emprego de desfolhantes químicos.

A Operação Quissonde realizou-se a partir de 26 de Maio de 1966 e foi planeada para durar vários meses. A sua finalidade era destruir as terras de cultivo – “lavras” – das populações que apoiavam os guerrilheiros na zona dos Dembos, obrigando-as a apresentarem-se às autoridades portuguesas por falta de alimentos e impedi-las de darem apoio aos combatentes.

A operação decorreu a norte do rio Zenza, numa área compreendida entre Nambuangongo-Quicabo-Pedra Verde e Quitexe.

A destruição das “lavras” era feita à mão, por grupos de homens contratados, designados pelo Exército como “turmas de pioneiros de destruição manual” e por lançamento de desfolhantes químicos a partir de um avião C-47 preparado para o efeito.

Os nomes de código de alguns dos subagrupamentos operacionais remeteram para produtos químicos, sinal de que os comandantes conheciam o tipo de operação em que estavam envolvidos – Subagrupamento Sheltox, Subagrupamento Sulfato, etc.

De acordo com o relatório da operação, as áreas médias de destruição de lavras por dia eram de 30 a 40 hectares.

A guerra química na guerra de contra-subversão

As primeiras notícias da utilização de herbicidas numa guerra de contra-subversão têm origem na Malásia e no Quénia, onde os ingleses os empregaram para desmatar as bermas das vias de comunicações e locais de refúgio de guerrilheiros.

Em 1961, logo após o início da guerra em Angola, Ronald Waring, um inglês especialista nestas armas, enviou um memorando aos comandos militares portugueses sobre o seu emprego. Oficialmente os chefes militares portugueses desprezaram a sugestão, que incluía uma demonstração de eficácia por parte do fabricante, a multinacional ICI, mas o certo é que, em 1966, a Força Aérea e o Exército estavam em condições de empregar tacticamente químicos herbicidas e desfolhantes na guerra de contra-subversão.

A Força Aérea e a Operação Quissonde

Nessa data, durante a Operação Quissonde, oficiais sul-africanos foram enviados para junto de unidades portuguesas para ganharem experiência em contra-subversão. De acordo com os seus relatos, embora não tenham ficado muito impressionados com o grau de desempenho dos portugueses, “aprenderam como estes usavam desfolhantes e napalm, como minavam trilhos e envenenavam fontes”, embora não se tivessem envolvido directamente em combate.

O uso de herbicidas e desfolhantes pelas forças portuguesas em Angola e Moçambique teve o seu pico de utilização a partir do final dos anos 60, como uma das formas de garantir o controlo de certas áreas críticas e de negar o acesso a elas por parte dos guerrilheiros.

 

A primeira grande experiência com herbicidas

Em Angola a Força Aérea fez a primeira grande experiência de uso de herbicidas durante a Operação Quissonde, para destruir florestas e matas ao longo dos itinerários em zonas isoladas da região a sul de Nambuangongo. Também utilizou estes produtos no Leste, ao longo das faixas laterais da linha de Caminho-de-Ferro de Benguela, com a finalidade de diminuir a vulnerabilidade das forças portuguesas nos seus deslocamentos.

Os resultados, contudo, nunca foram muito compensadores: além de outras razões, porque as zonas a desflorestar eram muito grandes e porque essas acções aumentavam o ressentimento das populações que viam destruídas as suas terras de cultivo e se voltavam para o campo da guerrilha. Exactamente ao contrário do que defendia a doutrina de conquista das populações.

Estas operações com agentes químicos ocorreram principalmente em Angola e em Moçambique, pois a política do general Spínola na Guiné foi a de conquistar as populações. Acresce que o terreno húmido e pantanoso da Guiné tornava o seu emprego muito pouco eficaz.