26/11/1966 -

Informação do comandante da Região Militar de Angola, general Barreira Antunes, sobre os “Problemas magnos de Angola”.

Começando por considerar que a actual situação de Angola “exige a revisão dos conceitos que têm vindo a ser seguidos”, o general Barreira Antunes conclui que o “objectivo principal de Angola” é a Zona de Intervenção Centro (ZIC).

Com efeito, quer considerando o factor físico, económico, humano ou estratégico, sempre a zona centro se apresenta como a região determinante da situação de Angola. Ou seja: “uma vez instalada a subversão na ZIC, não só será mais difícil de debelar (…) como mais fácil será ao inimigo dali irradiar sobre o restante da Província”. Tornava-se evidente que o inimigo pretendia levar a subversão à região centro, já que, “não o tendo conseguido através da fronteira Norte, onde foi detido as margens do Rio Dange, está a tentar atingi-la através da Zona de Intervenção Leste (ZIL)”.

Exposta a situação, vislumbram-se dois perigos principais: “O rápido alastramento da subversão na Zona de Intervenção Leste” e “o crítico desguarnecimento da Zona de Intervenção Centro”.

Desta forma as conclusões eram fáceis: “A situação tende a deteriorar-se e o problema pode tornar-se muito grave, e porque sentimos que, in extremis, as responsabilidades serão pedidas às Forças Militares, não podemos deixar de expor superiormente as deficiências de meios para o
cumprimento da missão da RMA (Região Militar de Angola), antes que os acontecimentos o provem”.

Seguem-se as propostas concretas, enumeradas desta forma:

  • “Dotar a RMA com uma potente, eficiente e rendosa rede de transmissões de comando (STM)”, com vista a “uma oportuna e eficiente acção de comando”;

  • Fornecer viaturas para motorizar completamente as forças de intervenção, para motorizar adequadamente as forças de quadrícula, para constituir unidades rápidas com viaturas blindadas;

  • Dotar as unidades com equipamentos logísticos de campanha adequados a uma deslocação rápida assim como material de transmissões de

    campanha leve, robusto e versátil, tudo no sentido de conferir uma maior mobilidade às tropas operacionais;

  • Reforçar a Região com mais unidades, incluindo mais 4 companhias de engenharia, conferindo “maior possibilidade de actuação das nossas tropas”;

  • Reforçar a Região com meios terrestres de apoio de fogos, ou seja, mais artilharia e respectivas munições;

  • Dotar a Região com “unidade de radar de campo de batalha”, por serem as fronteiras muito extensas e permeáveis e ser necessário um equipamento capaz de “detectar a infiltração de elementos inimigos em território nacional”;

  • Por último, obter para a Região mais meios aéreos, especialmente de observação e de transporte rápido, como DO 27 e helicópteros”.

De certa forma, a hierarquia militar procurava impor condições para levar a bom termo o desafio da missão que lhe fora atribuída, fazendo crer, como sempre, que os meios eram insuficientes. As condições, como neste caso, podem ultrapassar os limites do possível, e de alguma forma confrontar o poder político com a sua incapacidade e falta de resposta.