13/11/1967 -

Reunião entre o secretário de Estado americano, Dean Rusk, e Franco Nogueira para passarem em revista assuntos em conflito – NATO, Médio Oriente, Congo e Biafra.

Seguem-se algumas notas do Departamento de Estado relativas ao encontro que permitem entender a arte de negociador de Franco Nogueira e o modo como ele apresentava as posições portuguesas, tão difíceis de justificar. É possível ver as respostas aos assuntos mais quentes em que Portugal estava envolvido:

“1. NATO e Estudo Harmel sobre as futuras tarefas da Aliança: O Ministro Português disse que o seu Governo acredita que a NATO sobreviverá, mas não acredita que
sobreviva sem ser redefinida pelo menos em dois pontos: primeiro, melhoria do sistema político de consulta sobre problemas NATO e não NATO, tais como Médio Oriente, Cuba, Vietname e África Portuguesa; segundo, enquanto os aliados não tiverem cem por cento de apoio para as suas políticas não NATO por parte dos outros membros, os países não NATO considerar-se-ão estimulados a hostilizá-los.

2. Voto dos Estados Unidos no 4º Comité das Nações Unidas: O Ministro Português expressou grande apreço por os Estados Unidos terem votado contra a resolução sobre os territórios portugueses. A referência era os Estados Unidos não terem apoiado um relatório sobre as colónias portuguesas.

3. Congo: O Ministro Português duvidava que o Governo dos Estados Unidos entendesse a surpresa de Portugal com a sua posição sobre a queixa do Congo relativa à entrada de mercenários através de Angola. É que Portugal nunca tinha sentido dos Estados Unidos a mesma preocupação nos últimos sete anos, nomeadamente quando das incursões de bandos armados vindos do Congo, que assassinaram entre seis e oito mil angolanos de todas as raças, sexos e idades”.

Era a defesa possível de Franco Nogueira sobre o apoio aos mercenários que combatiam no Congo e o secretário de Estado Dean Rusk respondeu que o Governo dos Estados Unidos tinha o maior interesse em manter a unidade do Congo e de impedir a sua fragmentação. Acrescentou que os Estados Unidos tinham investido milhões de dólares nessa política e avisou Franco Nogueira que, quanto às actividades do mercenário Schramme, “tinham estado em cima de gelo muito fino” quanto à possibilidade de massacres contra a população branca. Salientou que os Estados Unidos não davam particular importância a quem governava o Congo – tinham apoiado sucessivamente Adoula, Tchombé e agora Mobutu – mas sim o Governo que estava no poder.

“4. Nigéria: O Ministro Português disse que, tal como no Congo, quanto ao Biafra, também Portugal está a servir de bode expiatório. Disse que todos estão a ajudar o Biafra – o Banco Rothschild, a Checoslováquia, a Espanha, a França, a Alemanha, a Irlanda, a Inglaterra – mas Portugal é o único que recebe uma censura por permitir que aviões estrangeiros, pilotados por pilotos estrangeiros na posse de todos os documentos transitem pelo aeroporto de Lisboa com cargas adquiridas fora de Portugal”.