24/11/1967 -

Apreciação da situação em África pelos Estados Unidos (CIA).

Esta apreciação foi apresentada pelo subdirector da CIA, Rufus Taylor, ao U.S. Intelligence Board e traduz o pensamento americano relativamente a África na altura. A sua finalidade era analisar os movimentos de libertação que pretendiam acabar com o domínio branco no Sul de África, as suas relações com outros Estados africanos e com os países comunistas e as implicações para os Estados Unidos.

As conclusões do estudo foram encorajadoras para Portugal

A. Os movimentos de libertação de Angola, Moçambique, Rodésia, África do Sul e Sudoeste Africano têm poucas possibilidades de progresso até 1970 e provavelmente depois. Muitos destes movimentos apresentam várias debilidades, especialmente falta de apoio interno, mas mesmo com um grande aumento do recrutamento nenhum será capaz de expandir a sua insurreição de modo a perturbar a determinação dos regimes brancos de resistirem às mudanças no seu domínio.

B. A causa da libertação tem suporte interno nos Estados africanos e muitos deles acreditam que os Estados Unidos e outras grandes potências deveriam agir para terminar com o domínio branco na África Austral. As relações dos Estados Unidos com os Estados africanos é influenciada por este problema, mas o seu impacto é variável. A Zâmbia e a Tanzânia, Estados fronteiriços da área dominada pelos brancos, estão envolvidas no apoio aos movimentos de libertação e receiam a retaliação.

C. A URSS, a China e Cuba procuram expandir a sua influência em África fornecendo quantidades apreciáveis de ajuda militar e financeira aos movimentos de libertação. Se a capacidade destes movimentos para utilizar esta ajuda aumentar, os países comunistas aumentarão por sua vez a sua ajuda, mas é improvável que a URSS e a China se envolvam em operações militares directamente.

Quanto aos territórios portugueses

  • Manter o apoio ao princípio da autodeterminação;

  • Prepararmo-nos para mudanças através de contactos com o Brasil, outros países europeus e africanos e políticos portugueses pós-Salazar;

  • Evitar o envolvimento no provável banho de sangue nestas colónias.

Na Rodésia: deixar o Reino Unido dirigir o processo.

No Sudoeste Africano: manter o apoio à autodeterminação e à responsabilidade das Nações Unidas; protestar contra a violação dos direitos dos habitantes e procurar proteger os seus interesses e encorajar o diálogo da África do Sul com as Nações Unidas sobre o futuro do território.

Era esta, em linhas gerais, a posição dos Estados Unidos para a África Austral em 1967. A África não era e não será uma prioridade na política americana durante estes anos. A frase de Dean Rusk: “Em África nós apoiamos os Governos que estão no poder”, dita a Franco Nogueira, caracteriza este modo dos EUA se relacionarem com o continente.