23/12/1967 -

Reunião do ministro da Defesa Nacional com os chefes de Estado-Maior dos três Ramos, a fim de tratar do problema do sargento Lobato, preso na Guiné-Conacri.

A reunião tinha sido convocada porque o embaixador de Portugal em Paris comunicara que, através de um intermediário de confiança, o Governo da Guiné informara que estava disposto a libertar o sargento Lobato “se este declarasse que se comprometia a não mais pegar em armas”. Ora, o interessado, “ao ser-lhe dado
conhecimento da proposta do Governo guineense, imediatamente declarou que se negava a tomar tal compromisso e que, muito pelo contrário, a primeira coisa que faria, se fosse libertado, seria pedir às autoridades que o mandassem o mais depressa possível continuar a combater o inimigo do seu país”. O que era necessário saber era se se devia autorizar ou não o sargento Lobato a tomar o compromisso pedido.

Coube ao chefe do Estado-Maior do Exército fazer o enquadramento da questão, apresentando uma síntese do que deveria ser a posição do Governo português. Em primeiro lugar, “a República da Guiné não está em guerra com Portugal – e não tem o mínimo direito de negociar sobre este assunto com o Governo português”; depois “poderia ter consequências graves entabularem-se negociações entre os dois Governos em matéria ligada à subversão na nossa Guiné – entre outras, reconhecimento de estados de beligerância e instituição de um poder medianeiro”; finalmente, “o Governo português não deverá ter outra preocupação que não seja a de ajudar o sargento Lobato a preservar a sua magnífica atitude. Fará evidentemente todos os esforços para o libertar, mas não o afligirá com uma autorização de não mais combater que pode provocar-lhe desilusão ou até ofendê-lo”. Ficou também assente que o sargento Lobato era credor de uma alta recompensa dessa mesma data, mas que o galardão a atribuir-lhe seria válido para todos os efeitos a partir de então, “embora permanecendo secreto até à oportunidade devida”.

O sargento Lobato, como os outros prisioneiros portugueses que estavam em Conacri, foi libertado em 1970, durante a Operação Mar Verde.